Ética & Moral
ABD - Aprendizagem Baseada em Dilemas
Dilema Resumido:
#002 - Quem, afinal, vai pagar a conta?
Maria, como vendedora comprometida, enfrentou um dilema durante um almoço de negócios, quando seu convidado pediu várias taças de vinho, indo contra a política da empresa. Mesmo sabendo do impacto financeiro, ela pagou as despesas para garantir o fechamento do negócio e ajudar no tratamento de seu pai doente, pois a comissão era excelente. Ela não dormiu na cidade, mesmo tendo o direito de fazer, voltando no mesmo dia. Seu objetivo era trocar as despesas de hospedagem pelas despesas do restaurante. Ao tentar negociar a troca das despesas com seu superior, Maria foi confrontada com uma resposta inflexível. Ele disse a Maria: Regras são regras e todos devem cumpri-las. Não quebrarei as regras nem para você e nem para ninguém.
Dilema Completo:
#002 - Quem, afinal, vai pagar a conta?
Maria é vendedora e viaja muito para atender seus clientes e prospects. Na última viagem ela foi almoçar com um prospect com objetivo de discutir um pouco mais os detalhes de uma proposta que havia feito. Após sentar à mesa do restaurante, ela pediu água e o seu convidado pediu uma taça de vinho. Durante o almoço e, enquanto discutiam o projeto, seu convidado pediu outras taças de vinho. A cada taça de vinho, Maria pensava em como iria justificá-las, já que a empresa em que trabalha tem uma política rígida de não reembolsar bebidas alcoólicas em almoço de negócios para ninguém. Nem para o presidente da companhia.
Maria está focada em fechar esse negócio, pois a comissão é excelente e ela precisa desse dinheiro para ajudar no tratamento de seu pai que sofre de uma doença degenerativa. Quando a conta chegou, Maria olhou e viu que o valor das taças de vinhos era bem maior do que imaginava. Como ela tinha convidado, e é de praxe, ela pagou a conta com seu cartão de crédito e pediu a nota fiscal. Para sua tristeza, as taças de vinho haviam sido discriminadas. Nesse momento ela soube que teria problema.
Ao invés de dormir na cidade em que estava, ela voltou no mesmo dia, economizando a diária de hotel, com objetivo de trocar esse valor com a despesa de bebida do almoço. Ao explicar para seu chefe o que aconteceu, ele foi implacável. Regras são regras e estão aí para serem cumpridas. Não há como trocar as despesas.
Comentários:
O dilema enfrentado por Maria, uma vendedora comprometida, ilustra a complexa interação entre ética e moral no contexto corporativo. Ao decidir pagar pelas bebidas alcoólicas durante um almoço de negócios para assegurar o fechamento de um negócio importante, Maria se vê em conflito com a política rígida de sua empresa, que proíbe o reembolso de despesas com bebidas alcoólicas. Este caso destaca o desafio de equilibrar a ética do bem comum, representada pelo desejo de Maria de contribuir para o sucesso da empresa e ajudar no tratamento de seu pai, com a moral corporativa, que estabelece regras claras sobre despesas reembolsáveis.
Para uma análise profunda deste dilema, recorreremos à corrente filosófica da ética deontológica, especialmente nas reflexões de Immanuel Kant. A ética deontológica kantiana enfatiza a importância de agir de acordo com o dever e respeitar as normas universais, independentemente das consequências. Segundo Kant, as ações são moralmente corretas se forem realizadas em conformidade com o dever, guiadas por princípios universais que respeitam a autonomia e a dignidade de todos os indivíduos envolvidos.
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A decisão de Maria de pagar pelas bebidas reflete um conflito entre a ética do bem comum, que busca o fechamento do negócio para benefício pessoal e da empresa, e a moral corporativa, que proíbe o reembolso de despesas com bebidas alcoólicas. Do ponto de vista da ética deontológica, a ação de Maria pode ser vista como um desvio da moral estabelecida, uma vez que viola as regras corporativas claras, independentemente de suas boas intenções ou das consequências positivas que esperava alcançar.
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A flexibilidade nas políticas corporativas para alcançar resultados, embora possa parecer benéfica do ponto de vista utilitarista, é questionável sob a ética deontológica. Kant argumentaria que agir de maneira flexível em relação às políticas corporativas compromete a integridade moral, pois subordina os princípios universais de honestidade e transparência a interesses particulares ou resultados específicos.
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O impasse entre Maria e seu superior destaca um conflito inerente entre a ética e a moralidade das regras corporativas. Enquanto Maria pode ter agido com a intenção de promover o bem comum, seu superior enfatiza a importância de seguir as regras corporativas como um imperativo moral. A ética deontológica kantiana apoia a posição do superior de Maria, sublinhando que as regras devem ser cumpridas independentemente das circunstâncias, pois representam princípios morais que garantem a justiça e a igualdade de tratamento para todos na organização.
Respondendo as questões:
1. A decisão de Maria de pagar pelas bebidas para fechar o negócio se alinha com a ética do bem comum ou contradiz a moral corporativa?
A decisão de Maria contradiz a moral corporativa, de acordo com a ética deontológica kantiana. Embora suas intenções possam ser alinhadas com a ética do bem comum, ao buscar o sucesso do negócio e o bem-estar de seu pai, ela falha em respeitar as regras universais estabelecidas pela empresa, comprometendo a integridade moral de suas ações.
2. A flexibilidade nas políticas corporativas para alcançar resultados pode ser justificada pela ética ou é um desvio da moral estabelecida?
Sob a perspectiva da ética deontológica, a flexibilidade nas políticas corporativas para alcançar resultados específicos é um desvio da moral estabelecida. As ações devem ser guiadas por princípios morais universais, e não pelos resultados desejados. A integridade e a adesão às regras são fundamentais para garantir a justiça e o respeito mútuo dentro da organização.
3. O impasse entre Maria e seu superior destaca um conflito entre a ética e a moralidade das regras corporativas?
Sim, o impasse entre Maria e seu superior ilustra um conflito entre a ética do bem comum, representada pelas intenções de Maria, e a moralidade das regras corporativas, enfatizada pela resposta inflexível de seu superior. A ética deontológica kantiana apoia a posição do superior, reiterando que as regras corporativas devem ser seguidas como um imperativo moral, independentemente das circunstâncias individuais ou das consequências.
Referências bibliográficas
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Kant, I. (1785). Groundwork of the Metaphysics of Morals.
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Korsgaard, C. M. (1996). Creating the Kingdom of Ends. Cambridge University Press.
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Wood, A. W. (1999). Kant's Ethical Thought. Cambridge University Press.
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Sullivan, R. J. (1989). Immanuel Kant's Moral Theory. Cambridge University Press.
Esta análise, fundamentada na ética deontológica kantiana, destaca a importância de aderir a princípios morais universais e regras estabelecidas, mesmo quando confrontados com dilemas éticos complexos no ambiente corporativo.