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Foto do escritorXiko Acis

A Ética no Empreendedorismo Brasileiro: Desafios e Reflexões


Em 2022, o cenário empresarial brasileiro presenciou uma movimentação impressionante de cerca de 420 bilhões de reais por parte dos empreendedores de micro, pequenas e médias empresas, de acordo com um relatório do Sebrae e do GEM - Global Entrepreneurship Monitor. É interessante observar que esses empreendedores são predominantemente homens, brancos, com formação superior e situados na faixa etária entre 30 e 39 anos. Esses dados, de certa forma, refletem um "sucesso" alcançado pelos empreendedores brasileiros, em grande parte atribuído ao famoso "jeitinho brasileiro", uma abordagem muitas vezes antiética e, por vezes, imoral. Mas será que podemos culpá-los por isso? Talvez sim, quando se envolvem em práticas fraudulentas. No entanto, talvez não compreendam por que essas ações são consideradas antiéticas e imorais.


Uma das razões para esse cenário é que os empreendedores nascidos após o golpe de 1964 não tiveram uma educação formal e estruturada em ética e moral. Na melhor das hipóteses, receberam uma instrução em educação moral e cívica, que se resumia a cantar hinos e evitar "reclamar" do governo. Em 1969, logo após o golpe, o governo removeu as disciplinas de filosofia e sociologia do currículo escolar, por receio de que esses conhecimentos questionassem o status quo e tornassem as pessoas menos alienadas e submissas, o que era um desejo das elites. Essas disciplinas são, de fato, conhecidas por questionar com rigor as normas estabelecidas.


Ao remover a filosofia, em particular, retirou-se a oportunidade de aprendizado sobre ética e moral, áreas da filosofia que nos ensinam que "valores familiares", "valores religiosos" e "valores cívicos" são insuficientes para criar uma sociedade justa, equânime e, portanto, ética. Sem um estudo estruturado e aprofundado sobre ética e moral, fomos moldados por esses valores e nos tornamos uma sociedade medíocre, hipócrita, intolerante e egoísta, características que são enaltecidas pelo famoso "jeitinho brasileiro".


A conhecida "lei de Gerson", que busca tirar vantagem em tudo, serve como base para o "sucesso" da maioria dos empreendedores brasileiros de hoje. Um exemplo emblemático disso é a Lojas Americanas. O trio Lemann, Telles e Sicupira, frequentemente reverenciado por seu "sucesso", alcançou o que alcançou por falta de postura ética e conduta moral.


Desafio você a encontrar um único caso de um empresário brasileiro "bem-sucedido" que tenha agido sempre de maneira ética e moral com todos os stakeholders, e prometo que dedicarei o resto da minha vida para escrever sobre as qualidades desse indivíduo.

Farei propaganda dele, o utilizarei como estudo de caso em minhas aulas, discutirei sobre ele em palestras, mencionarei seus feitos em meus livros e assim por diante. Essa pessoa se tornará uma referência para mim e para aqueles ao meu redor.


Perceba que a maioria dos empreendedores possui formação universitária. No entanto, mesmo na universidade, o tempo dedicado ao estudo da ética e moral é insignificante, representando menos de 1% do total de horas/aula de sua formação. Além disso, para complicar ainda mais esse aprendizado, esses empreendedores são expostos a discursos superficiais sobre ética e moral, proferidos por autodenominados "StandUp Philosophers", que definem esses conceitos complexos como "isto ou aquilo", fornecendo uma visão limitada e simplista. Essas definições estão aquém do aprendizado estruturado que esses temas merecem ter.


É comum que, ao perguntar a um empreendedor o que é ética e moral, você receba respostas vagas, como: "Há vários conceitos e é difícil definir um só...", "Cada um adota sua ética e sua moral...", "Ética e moral tratam dos mesmos assuntos...", "Ética trata do 'eu quero, eu posso, eu devo'...", "Ética é a arte da convivência...", "Ética define o caráter de uma pessoa..." etc.


Essas definições são insuficientes para proporcionar uma compreensão estruturada dos temas. É como se alguém perguntasse: "O que é um cardiologista?" e recebesse a resposta simplista: "É alguém que cuida do coração." E quando perguntasse se um cardiologista cuida do coração de cachorros, obtivesse a resposta: "Não, para isso existe o veterinário." Então, se concluísse que um veterinário é um cardiologista, receberia uma resposta incerta: "Não sei. Talvez sim. Talvez não."


Isso parece uma conversa sem sentido, e de fato é. Todos esses discursos sobre ética e moral acabam afastando as pessoas de uma aprendizagem coerente e consistente. Já estamos há quase 60 anos sem tornar obrigatório o ensino de ética e moral, desde a educação infantil até o nível universitário, e tudo indica que continuaremos assim. Não há cobrança dos pais para que as escolas ensinem ética e moral de forma estruturada e profunda. Afinal, por que os pais, que também não receberam uma educação em ética e moral, exigiriam isso das escolas para seus filhos?


Se os pais fossem sinceros ao responder, a verdade é que eles desejam criar mais "Lemanns, Telles e Sicupiras". Querem que seus filhos se tornem esse tipo de "pessoa de sucesso", e o resto (ética e moral) será resolvido posteriormente.


Eu posso não saber explicar a importância das pesquisas científicas sobre o genoma humano, mas, mesmo sem conhecimento sobre o assunto, compreendo a sua relevância para resolver problemas clínicos das gerações futuras.

Da mesma forma, deveríamos reconhecer a importância da ética e moral e promover um aprendizado estruturado e profundo sobre esses temas, para sair de vez da mediocridade do senso comum.

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