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A Ética, é a solução para o discurso de ódio e a polarização. A Moral não.


Fui passar uma semana em uma pousada na praia. Nessa praia, como em tantas outras, é proibido para todos, utilizar aparelhos de som em qualquer volume.

Pois bem, em determinado momento, chegou um cidadão com sua família, sentaram-se embaixo do guarda-sol e acionaram uma caixa acústica, por meio do celular. No primeiro momento e como estratégia exploratória, colocaram o som bem baixo. Conforme os minutos foram passando, eles foram aumentando o som até um nível não razoável.

Eu e minha família, que estávamos ao lado, nos sentimos desrespeitado, já que esse tipo de conduta e ilegal desde 2013.

Aguardei mais algum tempo e como não houve empatia por parte deles, fui conversar com o rapaz sobre esse problema. O diálogo foi mais ou menos assim:

Eu: - Olá, bom dia. Tudo bem? Ele: - Tudo certo. O que você quer?
Eu: - Você sabia que é proibido o uso de aparelho de som na praia? Ele: - O cara, estou de férias... vê se não enche meu saco com isso...
Eu: - Meu amigo, depois que inventarão, o fone de ouvido, ouvir som nessa altura, além de ser proibido, é um tremendo desrespeito com todos que estão em sua volta. Se você quer continuar fazendo isso, porque não se afasta e vai para mais longe, já que todos que estão aqui chegaram muito mais cedo que você. Ele: - Eu não vou fazer isso. Quem estiver incomodado que se mude.
Eu: - Então não há acordo. Pedi para você desligar seu aparelho de forma respeitosa. Só me resta uma atitude: chamar a fiscalização. Ele: - Pode chamar quem você quiser.
Eu:- OK. É isso que vou fazer.

Nesse momento, quando estava me afastando, pedi para minha esposa ligar para prefeitura. Ele me ouviu falar e imediatamente se levantou, veio de forma agressiva na minha direção e gritou: Está bem... vou desligar... e saiu xingando.


No momento que ele veio em minha direção de forma agressiva, meu ímpeto foi ir na direção dele e até partir para uma agressão física, como ele queria. Parei e refleti que deveria voltar para meu guarda-sol e aguardar o desdobramento.


Fiquei sentado pensando sobre o ocorrido e pude perceber que:

  1. Se partíssemos para as vias de fato não haveria vencedor, todos perderiam;

  2. Pensei também se, o que estávamos discutindo fazia sentido ou era apenas uma vontade do nosso ego em se dar bem;

  3. A reflexão ética começa quando pensamos, como nesse caso, o por quê a pessoal quer agir de forma a desrespeitar o outro;

  4. Se você invocar apenas a regra moral (proibição de som na praia) a discussão não evoluirá pois em um país onde há grande impunidade, as leis (moral) não são eficientes, principalmente num caso como esse;

  5. Se você invocar a reflexão ética sobre: empatia, se colocar no lugar do outro, sobre o respeito que devemos ter e etc., se a pessoa tiver repertório para tal, a discussão evoluirá. Caso contrário, o outro lado vai te considerar um babaca... um otário... Porém, de alguma forma o teor da discussão ficará martelando na cabeça dele.

Sinceramente, eu não sei definir qual foi o motivo real que levou o cidadão desligar o aparelho. Talvez pela forma que agi em abordá-lo respeitosamente e em não levar a discussão para vias de fato, ou foi por medo e/ou constrangimento da fiscalização chegar e levar o aparelho dele embora ou, outro gatilho qualquer que desencadeou a ação por parte da pessoa. De qualquer forma, ele passou a agir moralmente daquele momento em diante. Nos demais dias que seguiram, ele não ligou mais a caixa acústica. Somente no dia anterior de irmos embora, é que outro cidadão chegou e ligou o som e ele também ligou o dele. Como eu me afastei e fiquei longe deles, não me incomodou tanto. Além disso, as pessoas ao redor, que deveriam estar mais incomodadas, pois havia dois sons ligados simultaneamente, não fizeram nada.


Conclusão: A reflexão ética só existe em quem adquiriu repertório estruturado ao longo da vida. Caso contrário, entrará em ação os valores familiares e valores religiosos, os quais não tem nada a ver com ética. Esses valores são aqueles que o famigerado “cidadão de bem” utiliza na atualidade. Somente investindo em educação ética, seja nas escolas ou nas organizações, diminuiremos, substancialmente o discurso de ódio e a polarização de “nós x eles”.


Já o agir moral, não será desafiado apenas quando a ação de punição estiver muito próxima, podendo causar, além de perdas, o constrangimento. Caso contrário, o agir moral será sempre desafiado por oportunistas que querem levar vantagem em tudo. Um exemplo disso é o cumprimento dos Códigos de Conduta das organizações. O colaborador cumpre porque sabe que, se não o fizer, poderá ser demitido. Toda essa ação, na organização, acontece rapidamente e, praticamen5te não há impunidade. Já no caso citado haverá sempre a possibilidade de se arranjar um “jeitinho” e a punição poderá não acontecer ou demorar anos para acontecer.


Por isso, a reflexão ética é o caminho para mitigar o discurso de ódio e a polarização. Já a moral (leis e normas), dificilmente contribuirá para isso, uma vez que, além de desatualizadas, na maioria dos casos, as pessoas contam com a impunidade e uma justiça que tarda e falha.

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