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Dar um tapa na cara de alguém vale a pena?


Das várias definições da expressão “vale a pena e/ou valeu a pena”, a mais razoável é a que explica que os monges, no medievo, ficavam enclausurados e não tinham acesso a quase nada, quando podiam e contra as normas dos monastérios, cometiam alguns deslizes e eram duramente penalizados por isso. Quando um outro monge perguntava se agir de forma imoral, ou seja, não seguir a conduta estabelecida valeu o castigo, os monges invariavelmente respondiam: “valeu a pena”.


Presenciamos, na entrega do Oscar, uma cena bizarra entre Chris Rock e Will Smith. Para os dois, devemos perguntar se “valeu a pena?”.


É razoável pensar que todo o Oscar é preparado com um planejamento impecável. Todas as narrativas de apresentação são minunciosamente estabelecidas incluindo as piadas e possíveis improvisos. Assim, Chris Rock teve tempo suficiente para pensar, planejar, ensaiar e falar o que falou sobre a Jada Smith. Ele mesmo reconheceu isso em suas declarações de desculpas a Jada. Será que valeu a pena?


Já Will Smith não pensou muito antes de agir. Seguiu seu instinto reptiliano e, em nome da defesa da família, colocou em risco sua reputação e seu prêmio. Será que valeu a pena?

Qualquer violência é antiética. Se podemos e aprendemos a argumentar, por que agir de forma violenta? Não há pena no mundo que valha uma ação violência.


Veja o caso da Ucrânia. Completamente sem sentido o que o Putin está fazendo. As guerras todas são antiéticas. Podem ser morais, pois as regras de cada país definem isso, mas não têm menor sentido declarar guerra em pleno século XXI. Parece que estamos testando os limites humanos e não humanos. Definitivamente, não vale a pena.


E quando não conhecemos, a priori, a pena? O que fazer? Seguir a razão ou a experiência? Seguir as crenças ou o ceticismo?

De alguma forma, a pena era conhecida pelo Chris Rock. Talvez não em detalhes como aconteceu (o tapa). Como eu disse, ele teve tempo para isso. Pelas suas declarações pós-evento, ele já afirmou que não valeu a pena.

Já o Will Smith não sabe qual será sua pena. Antes mesmo de saber o que a Academia vai fazer, ele já disse que não valeu a pena. Pediu até para sair da filiado da Academia.


Então, por que agimos como agimos, mesmo sabendo ou não se vai valer a pena?

Aí, entra uma tese minha que é: fazemos o que fazemos, (em relação de valer ou não a pena), em função do mundo midiático que criamos e necessitamos manter e sustentar. Ser diferente, especial, o p*ca das galáxias ainda é objeto de desejo de muita gente. E para alcançar esse objetivo, valem as “penas” que o mesmo mundo midiático cobra. Pura ignorância. Se tanto o Chris Rock como Will Smith seguissem um fio condutor ético nas suas vidas, o Chris não teria feito uma piada de um gosto e o Will não teria batido em ninguém. Simples assim!

Talvez o mundo fosse muito sem graça sem as pessoas fazerem seus barracos, dando seus “pitis”, criando guerras e assim por diante. Mas é certo que, querer ser midiático e viver submisso a isso, não é uma escolha de quem quer evoluir. Não saber analisar as “penas” ou, nem sequer imaginar que elas vão existir, é um risco muito grande.


Esse trecho do poema Mar Português é de autoria do poeta Fernando Pessoa.

Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.

Nem tudo vale a pena Fernando. Nem tudo....

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