Não. Não se trata de lavar a roupa de forma responsável. Ethics Washing - Lavagem Ética, é um termo criado nos Estados Unidos que traduz à prática da “vitrine ética”. É onde uma organização fala da ética para fazer parecer que age com responsabilidade, mas não faz nada para garantir que, de fato, esteja ocorrendo na prática. A ética é principalmente para se mostrar “limpo” perante o público em geral.
Aqui no Brasil, diríamos que a organização está “jogando para torcida”, ou algo do gênero. Em outras palavras, a organização adota a posição: "Somos uma organização ética. Basta olhar para nossas políticas e nossas declarações."
Essa discussão está acontecendo, principalmente nos USA e na Europa, em relação a usarem o termo Ética para proteger falhas, em especial nos algoritmos da inteligência artificial. Aqui no Brasil, será difícil o alcance desta discussão, continuaremos como párias da ética e da moral.
No Brasil parece que, ao se declarar ser uma Organização Ética e se vincular a um instituto qualquer, já basta para ser considerada por todos uma organização ética de verdade. Até porque as Associações e Institutos que poderiam fazer algo sobre isso, não querem perder o valor da anuidade das empresas Ethics Washing e continuar faturando para sobreviver.
Para o presidente da Carnegie Council (Ethics in International Affairs), Joel Rosenthal:
"A lavagem ética é uma realidade no ambiente performativo em que vivemos – seja por corporações, políticos ou universidades. Muitos serviços da boca para fora é dado a virtudes como diversidade, equidade e inclusão, mesmo que os objetivos e meios para alcançá-los permaneçam mal definidos e indescritíveis”.
Como ética virou um assunto “bacana” de ser discutido nas rodas de conversas, mesmo levando em consideração que quem discute não conhece profundamente o assunto, ser antiético parecendo ético é a moda do momento. Quando entro no LinkedIn e vejo a quantidades de pessoas colocam no cargo como especialistas em ética (com raríssimas exceções), entendo perfeitamente o termo: Ethics Whashing e o motivo dos gringos estarem chateados com isso. Se eles conhecessem nossa realidade, jogariam a toalha.
No Brasil, temos vários Institutos e Associações que se apresentam como padrinhos da ética e a moral. Só para a gente entender do que estou escrevendo, vou pegar dois institutos reconhecidos que se apresentam como tutores desses temas: Instituto Ethos e IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Esses institutos, que são guardiões da ética e moral, pois é assim que se propagam em seus sites, têm como associados as seguintes figuras:
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social:
· Americanas SA – 33014556/0001-96
o R$ 9.243.160,89 - Inscrita na dívida ativa da união
· JBS – 02.916.265/0001-60
o R$ 121.398.473,85 - Inscrita na dívida ativa da união
IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa:
· Casas Pernambucanas - 07.209.612/0001-38 (Existem outros CNPJ com dívidas)
o R$ 110.058.636,24 - Inscrita na dívida ativa da união
· CVC Brasil - 10.760.260/0001-19 (Existem outros CNPJ com dívidas)
o R$ 1.086.541,66 - Inscrita na dívida ativa da união
Obs: Coloquei apenas dois exemplos de cada. Se você conferir a lista de associados, dos dois institutos, com a lista de devedores da união, você encontrará muito mais empresas associadas devedoras. (https://www.listadevedores.pgfn.gov.br/
Você pode até dizer que essas dívidas com a união não basta para tornaras empresas antiéticas e imorais. Que são deslizes sem muita importância. Pois é, se você pensa isso, ou é porque você não conhece os conceitos corretos de ética e moral ou porque tem interesse em alguma coisa que eu gostaria de saber.
Na verdade, essas empresas são imorais por não cumprirem a lei. Simples assim. Elas devem, foram condenadas e não pagaram. Essas dividas, que apontei, não são de agora. São de muito tempo e estão inscritas em DAU depois de muita briga judicial.
No meu entender também, são empresas antiéticas porque esses recursos poderiam ajudar pessoas menos favorecidas (bem comum), pois essas dividas têm relação com tributos que não foram pagos.
Mais importante que tudo, é entender que os Institutos, que deveriam orientar essas empresas e definirem se aceitam a sua associação ou não, além de não fiscalizar, mantém no seu quadro de associados empresas desse tipo, sem uma explicação que seja um bom argumento. Como eles divulgam o quadro de associados, eles deveriam colocar a informação de que determinados associados estão com problemas e o instituto está ajudando a resolver. Um asterisco resolveria isso e manteria o instituto cumprindo seu objetivo. Mas será que a empresa imoral e antiética continuaria pagando a anuidade?
Esses dois institutos são apenas dois exemplos. Existem muito mais casos de Ethics Whashing que você possa imaginar. Existe a empresa: Virtuous Company Consultoria e Educação Executiva, que cheguei a falar com eles sobre o problema sério de conceito e não tive resposta. Eles divulgam um documento setorial chamado: “Ranking Virtuous Company de Cultura Ética”, que trata de avaliações feitas por colaboradores na plataforma Glassdoor de empregos. Eles pegam o texto dessas avaliações e comparam com um lista de palavras que indicam que a empresa é ética Se você olhar a metodologia vai ver falhas gritantes nesse ranking que também não passa pelo crivo da DAU e por nenhum outro mais sensato.
No relatório que eles divulgam, existe a afirmação de que eles: “tem uma metodologia única no mercado capaz de avaliar o grau de cultura ética das empresas”.
Faço isso há 18 anos e nunca descobri que ética e moral tem “grau”. Não existem pessoas 99,9% éticas, como não existem pessoas 99,9% grávidas. Ou está grávida ou não está. Ou tem postura ética ou não tem.
O tema ética e moral é fascinante quando você entende os conceitos e mesmo quando você não entende e não aplica os conceitos. Ethics Whashing até quando?
Xiko Acis | CEO 7S Projetos
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