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Foto do escritorXiko Acis

Repensando o Propósito Empresarial


Imagine que você vai trabalhar em empresas que têm como propósito: “Onde a visão se constrói”, ou “Democratizar o acesso ao consumo de produtos e serviços”, ou “Construir um futuro melhor para as pessoas e comunidades onde atuamos”.  Legal não é? Pois é, não é bem assim!


Analisando os propósitos empresariais, frequentemente nos deparamos com um espetáculo de palavras que evocam sentimentos e ideais elevados: visão, democratização, construção de um futuro melhor, integridade, riqueza. Essas palavras, carregadas de promessas, pintam um quadro onde o ambiente empresarial parece ser um terreno de sonhos e aspirações nobres. No entanto, por trás dessa fachada, escondem-se pessoas com metas ambiciosas que, em muitos casos, desviam-se dos princípios originalmente proclamados. Este cenário nos convida a uma reflexão crítica sobre a verdadeira essência do propósito empresarial e sua relação intrínseca com a ética e a moralidade.


A gênese de um propósito empresarial, idealmente, deveria ser ancorada em uma postura ética inabalável e uma ação moral irrepreensível. Contudo, observamos que, ao se afastarem dos fundamentos éticos e morais preconizados seus propósitos, as empresas se expõem ao risco de transgredir em sua busca incessante por objetivos. Essas transgressões, muitas vezes veladas por adjetivos encantadores atribuídos aos propósitos, podem incluir uma gama de práticas antiéticas e imorais, desde fraudes e corrupção até violações dos direitos humanos e danos ambientais.


Quando uma empresa se distancia de sua base ética e moral, ou por desconhecer ou por não acreditar, torna-se vulnerável à tentação de priorizar o lucro, o crescimento e a inovação a qualquer custo, negligenciando os valores que deveriam sustentá-la. Esse desvio não apenas compromete a integridade da empresa, mas também pode resultar em consequências devastadoras para a sociedade como um todo. A perda de confiança dos clientes e investidores, processos legais e multas significativas são apenas a ponta do iceberg. O impacto mais profundo é sentido pelas comunidades, pelo meio ambiente e pela estrutura social, que sofrem as repercussões de decisões tomadas sem consideração ética e moral. Quando isso acontece, as palavras lindas colocadas no propósito, voam com o vento, assim como a reputação.

Diante desse cenário, é urgente que as empresas reavaliem e reafirmem a ética e a moralidade como pilares fundamentais de seu propósito. Alinhar os objetivos comerciais com valores éticos sólidos não é apenas uma questão de evitar irregularidades, mas também uma estratégia para construir resiliência e gerar um impacto positivo duradouro na sociedade.


Ao colocar a ética e a moralidade no centro de seu propósito, as empresas não só se protegem contra os riscos associados ao desvio de seus princípios fundadores, mas também pavimentam o caminho para um futuro sustentável e ético. Priorizar valores éticos sólidos não é apenas uma estratégia para o sucesso no mercado; é um compromisso com a construção de um mundo mais justo, transparente e inclusivo. Portanto, é hora de as empresas repensarem seus propósitos, não como meras declarações de intenção, mas como manifestações genuínas de seu compromisso com a ética e a moralidade. Chega de “palavras bonitas” sem sustentação.


Propósitos e Despropósitos

Faço uma análise básica de algumas empresas, porém crítica e fundamentada, focando nas implicações éticas e morais mais significativas, considerando os riscos associados a implementações mal-intencionadas desses propósitos e as ambiguidades que podem levar a interpretações equivocadas. São 10 empresas: 5 maiores mundiais, 5 maiores do Brasil e 5 engodos. Vamos lá:


Empresa: Apple

Propósito: Enriquecer a vida das pessoas com produtos inovadores.

Análise: A Apple, ao buscar a inovação, enfrenta o dilema ético de equilibrar o progresso tecnológico com a responsabilidade ambiental e social. A obsolescência programada, uma crítica frequente, não apenas estimula o consumo desnecessário, mas também contradiz o princípio do bem comum universal ao gerar resíduos eletrônicos massivos. Além disso, a dependência de minerais raros para a fabricação de dispositivos levanta questões sobre exploração de recursos e direitos humanos nas cadeias de suprimentos. A subjetividade na interpretação de "enriquecer vidas" pode levar a uma ênfase excessiva na posse de produtos como medida de sucesso, desviando-se dos valores éticos de sustentabilidade e equidade.

Empresa: Microsoft

Propósito: Empoderar cada pessoa e organização no planeta para alcançar mais.

Análise: A Microsoft, ao promover o empoderamento através da tecnologia, deve confrontar a exclusão digital e as disparidades no acesso à tecnologia. A concentração de poder em grandes corporações tecnológicas pode contradizer o bem comum universal, limitando a diversidade de vozes e inovações no espaço digital. A coleta massiva de dados pessoais para personalização e eficiência pode comprometer a privacidade individual, um direito moral fundamental. A subjetividade em "empoderar" pode levar a práticas que priorizam o lucro sobre a ética, como a exploração de dados pessoais sob o pretexto de personalização.

Empresa: Amazon

Propósito: Ser a empresa mais centrada no cliente, onde as pessoas podem encontrar qualquer coisa que desejam comprar online.

Análise: A Amazon, ao focar na satisfação do cliente, enfrenta críticas por práticas que podem comprometer o bem-estar dos trabalhadores e a sustentabilidade ambiental. A monopolização do varejo online ameaça pequenos negócios, desafiando o princípio do bem comum universal ao concentrar o poder econômico. A promessa de conveniência infinita pode incentivar o consumismo excessivo, contrariando os princípios de consumo responsável e sustentabilidade. A subjetividade em ser "centrada no cliente" pode negligenciar as necessidades e direitos dos trabalhadores e da comunidade mais ampla.

Empresa: Google

Propósito: Organizar a informação mundial e torná-la universalmente acessível e útil.

Análise: O Google, ao organizar a informação, detém um poder significativo sobre o que é acessível, levantando questões sobre censura, viés e manipulação de informações. Este poder pode ser usado de maneira que contrarie o bem comum universal, favorecendo determinadas agendas políticas ou comerciais. A coleta de dados em larga escala para personalização de conteúdo e publicidade pode infringir o direito à privacidade, questionando o agir moral no tratamento de informações pessoais. A subjetividade em "útil" pode levar a uma ênfase desproporcional em conteúdos que maximizam o engajamento em detrimento da qualidade ou veracidade.

Empresa: Twitter (X)

Propósito: Servir à conversa pública.

Análise: O Twitter, como plataforma de diálogo público, enfrenta o desafio de moderar o conteúdo sem infringir a liberdade de expressão. A disseminação de desinformação e discurso de ódio pode prejudicar o bem comum universal, minando a confiança pública e a coesão social. A subjetividade na definição de "servir" pode resultar em políticas de moderação inconsistentes, favorecendo ou silenciando certos grupos. A responsabilidade ética do Twitter é promover um espaço que valorize o diálogo construtivo e a diversidade de opiniões, equilibrando a liberdade de expressão com a proteção contra danos.

Empresa: Enron

Propósito: Revolucionar o fornecimento de energia, promovendo a eficiência e a inovação no setor.

Análise: A Enron, ao manipular suas demonstrações financeiras e utilizar estruturas corporativas complexas para ocultar dívidas, agiu de maneira profundamente antiética, violando princípios de transparência e responsabilidade corporativa. Esse comportamento não apenas prejudicou investidores, funcionários e o mercado como um todo, mas também minou a confiança pública nas instituições corporativas e financeiras. A falha da Enron em aderir a uma conduta moralmente íntegra reflete uma desconexão entre seu propósito declarado e suas práticas reais, evidenciando os riscos de uma cultura corporativa que valoriza o lucro acima da ética e da responsabilidade social.

Empresa Volkswagen

Propósito: Tornar a mobilidade sustentável o futuro do transporte

Análise: O escândalo de emissões da Volkswagen, conhecido como "Dieselgate", revelou uma violação significativa dos princípios éticos, especialmente em relação à honestidade e à responsabilidade ambiental. Ao manipular os testes de emissões para ocultar o verdadeiro impacto ambiental de seus veículos a diesel, a Volkswagen não apenas enganou consumidores e reguladores, mas também comprometeu esforços globais para combater a mudança climática. Esse caso sublinha a importância da congruência entre os propósitos declarados de uma empresa e suas ações reais, destacando os perigos de uma cultura corporativa que permite ou encoraja práticas enganosas para atingir objetivos comerciais.

Empresa Lehman Brothers

Propósito: Onde a visão se constrói

Análise: A falência do Lehman Brothers em 2008 foi um marco na crise financeira global, evidenciando falhas éticas profundas no setor financeiro. A alta alavancagem, a tomada de riscos excessivos e a falta de transparência em suas operações refletem uma cultura corporativa que negligenciou a prudência financeira e a responsabilidade ética. Esse colapso não apenas devastou a economia global, mas também destacou a necessidade crítica de regulamentações mais rigorosas e de uma cultura de integridade e responsabilidade no setor financeiro, reforçando a importância de alinhar as práticas empresariais com princípios éticos fundamentais para o bem-estar coletivo.

Empresas: Americanas

Propósito: Democratizar o acesso ao consumo de produtos e serviços

Análise: A recente revelação de inconsistências contábeis significativas na Americanas S.A. desencadeou uma crise de confiança entre investidores, parceiros comerciais e consumidores. Essa situação levanta questões críticas sobre a governança corporativa, a transparência financeira e a ética nos negócios. Ao comprometer a confiança dos stakeholders, a Americanas enfrenta o desafio de realinhar suas operações com os princípios éticos de honestidade e responsabilidade, essenciais para sustentar seu propósito empresarial e garantir sua viabilidade a longo prazo no mercado.

Empresa: Odebrecht

Propósito: Construir um futuro melhor para as pessoas e comunidades onde atuamos.

Análise: O envolvimento da Odebrecht em um vasto esquema de corrupção, revelado pela Operação Lava Jato, demonstra uma violação grave dos princípios éticos, especialmente em relação à integridade, transparência e responsabilidade social. Ao participar ativamente de práticas corruptas para obter contratos e favorecimentos, a Odebrecht prejudicou não apenas a concorrência leal no mercado, mas também afetou negativamente as comunidades e economias onde operava. Este caso ressalta a importância crítica de uma governança corporativa sólida e de uma cultura empresarial que priorize a ética e a responsabilidade social acima de ganhos imediatos, reforçando a necessidade de alinhar as ações corporativas com o bem comum universal.


Resumindo: Essas análises básicas visam não apenas identificar os desafios éticos e morais enfrentados por essas empresas, mas também refletir sobre as responsabilidades corporativas em promover práticas que se alinhem com princípios éticos elevados, garantindo um impacto positivo na sociedade e no meio ambiente. A complexidade desses desafios exige uma abordagem reflexiva e crítica, considerando tanto as intenções quanto as consequências das ações corporativas no contexto do bem comum universal e do agir moral singular.

Lembre-se: A Ética e Moral antecedem os Propósitos e não o contrário. Como diz um competente amigo: “Ética é Soberana”.



Xiko Acis | Provocador

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